Relato Pessoal


Tema: O relato pessoal


[...] Em Santos, onde morávamos, minha mãe me lia histórias, meu pai gostava de declamar poesias. Foi em algum momento do ginásio – por volta do que hoje seria a sexta ou sétima série – que li de começo a fim um romance: Inocência, de Taunay, é minha mais remota lembrança de leitura de um romance brasileiro. Livro aberto nos joelhos, afundada de atravessado numa poltrona velha e gorda, num quartinho com máquina de costura, estante de quinquilharias e uma gata branca chamada Minie.
Até então, leitura era coisa doméstica. Tinha a ver apenas comigo mesma, com os livros que havia na estante de quinquilharias de meu pai e com os volumes que avós, tias e madrinhas me davam de presente. No cardápio destas leituras, Monteiro Lobato, as aventuras de Tarzan, os volumes da Biblioteca das Moças. O sítio do Pica pau Amarelo, as florestas africanas, castelos e cidades européias constituíam a geografia romanesca que preenchia meus momentos livres.
Mas um dia a escola entrou na história.
Dona Célia, nossa professora de português, mandou a gente ler um livro chamado Inocência. Disse que era um romance. Na classe tinha uma menina chamada Maria Inocência. Loira desbotada, rica e chata. Muito chata. Alguma coisa em minha cabeça dizia que um livro com nome de colega chata não podia ser coisa boa.
Foi por isso que com a maior má vontade do mundo é comecei a leitura do romance de Visconde de Taunay, de quem eu nunca tinha ouvido falar: visconde, para mim, era o de Sabugosa. Fui lendo a frio, sem entusiasmo nenhum. O presságio da chatice confirmava-se, até que apareceu o episódio das borboletas. Aí me interessei pelo livro: um alemão corria caçando borboletas e depois dava a uma delas o nome da heroína do livro... Gostei. Não muito, mas gostei. E passei a olhar o nome das borboletas com olhos diferentes: alguma delas seria a papilo innocentia da história? [...]
(Marisa Lajolo. Como e por que ler o romance brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. p. 15-7.)

1.      O texto que você acabou de ler pode ser considerado um Relato Pessoal. Explique por quê?

2.      Identifique no texto as características de estrutura que um relato normalmente apresenta:
a)      Foco narrativo
b)      Tempo em que os fatos ocorrem
c)      Tipo de linguagem (culta ou coloquial)

3.      Nesse texto, a autora relata alguns fatos de sua vida relacionados à leitura.
a)      O que a autora chama de leitura doméstica?
b)      O livro indicado pela professora de Português tinha o mesmo nome que o de uma colega de classe: Inocência. Que relação feita pela autora a predispôs a começar a ler o livro sem entusiasmo?
c)      Apesar da desconfiança inicial, o que o romance Inocência ensinou à autora? Por quê?

4.      Nos relatos, é comum o emprego da descrição, usada para caracterizar pessoas, lugares, objetos, etc. Como a autora descreve:
a)      Sua colega Maria Inocência?
b)      A poltrona onde se afundava para ler?

5.      Os fatos relatados no texto são ficção ou episódios vividos pela autora? Que trecho do 1º parágrafo comprova sua resposta?

6.      Embora esteja escrito em linguagem padrão, existem alguns momentos do texto em que a autora faz uso de certa informalidade. Identifique no texto uma dessas passagens.

7.      Levante hipóteses: por que a autora faz uso de certa informalidade em seu relato?

Resumindo: o relato pessoal em um texto que representa episódios marcantes na vida de uma pessoa. O narrador é protagonista. Os verbos e os pronomes são empregados principalmente na primeira pessoa e predomina o tempo passado. A linguagem empregada é compatível com o perfil do autor e de seus leitores e segue geralmente a variedade padrão da língua.

Gabarito

1. O texto é um relato pessoal, porque é uma narrativa que mostra os fatos do cotidiano de uma pessoa.

2. a) 1ª pessoa do singular. / b) Tempo passado. / c) Linguagem coloquial.

3. a) São leituras que faziam parte da estante da casa da autora, como por exemplo, Monteiro Lobato e as aventuras de Tarzan. E eram leituras que preenchiam seus momentos livres.
b) Inocência era o nome de uma colega de classe da autora, ela era loira desbotada, rica e chata.
c) O livro ensinou a autora a persistir na leitura até o episódio da borboleta, que, a partir de então, ela começou a gostar da leitura do livro.

4. a) Ela descreve a garota como loira desbotada, rica e chata. / b) A poltrona era velha e gorda.

5. São episódios vividos pela autora. "Em Santos, onde morávamos..."

6. Algumas passagens são: "Loira desbotada, rica e chata. Muito chata." "Aí me interessei pelo livro..."

7. A informalidade é usada para dar um tom mais pessoal do texto, pois, assim, os relatos vividos pela autora se aproxima do leitor.

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