Aqui jaz
com o jornal na mão, se abanando,
a mãe de um vestibulando.
Pouco faz,
alguém lhe passou, aflito,
Santo Deus, o gabarito!
Rogai pelos genitores
na hora dos seus estertores.
O filho, consultado
sobre o provável resultado,
disse que está tudo numa boa.
Tudo a mil, céu de anil.
"Não vos grileis, ô coroa!"
E saiu para comemorar, com estranhas,
o ingrato fruto das suas entranhas.
Aqui fenece
com o rádio no ouvido, p e n a n d o,
a mãe de um vestibulando.
E desfalece.
Sua alma é uma folha ótica
rasurada e caótica.
Se tivesse como optar
num sistema de múltipla escolha
antes deste que a quer matar
teria dado luz a uma bolha.
Não os deixeis cair em prostração
enquanto não sair o listão.
O filho, que em vez das matérias
só estudava o que fazer nas férias,
diz que: "Olha aqui, já passei.
Do jeito que está o ensino
só não passa mesmo um cretino
e, de qualquer jeito, eu colei".
E sai para uma chopada
Deixando a mãe crucificada.
Aqui se arrasta
como uma loba, uivando,
a mãe de um vestibulando.
Junta vizinhos e populares
para ver os seus esgares.
"Esse filho da mãe é um sortudo,
sempre teve apoio e alento
e vai errar quase tudo,
o jumento!"
Livrai-os do impulso mortal
- estrangular um filho pega mal.
E o filho da mãe, triunfante,
com ar superior e confiante,
disse pra velha: "Relaxa.
Botei tudo coluna do meio
e vou passar sem receio,
este ano a média está baixa".
E sai com aceno de mão
Enquanto a mãe estrebucha no chão.
In: A Mãe do Freud.
L. F. Veríssimo
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